Dizem que Churchill falou que quem não foi comunista até os vinte anos, não tem coração, e quem continua sendo depois dos quarenta, não tem cérebro. Acho que foi por isso que durante o Ensino Médio encantei-me com a ideologia marxista. Porém, o “encantamento” não durou muito: o conhecimento do fracasso da tentativa de implantar o regime comunista, e mais, as atrocidades dele decorrentes pôs meus pés no chão.
Durante a graduação conheci alguns colegas conservadores*. Todos tinham em comum uma excelente capacidade argumentativa e defendiam severamente os EUA. Eram contra as ações afirmativas e todas as formas de proteção das minorias, políticas assistenciais, movimentos sociais, expansão dos direitos sociais, etc.
Percebi que, embora dentro cada grupo houvesse certa diversidade, a forma de pensar dos socialistas e dos liberais era mais ou menos “amarrada”. Ou seja, quem era de esquerda devia defender os regimes cubano e venezuelano, o aborto, a causa gay, as cotas sociais e raciais, as políticas assistenciais, etc. Quem se identificava com a direita tinha que necessariamente abraçar os pontos que indiquei no segundo parágrafo deste texto.
Não consegui entrar em nenhum dos grupos, pois concordava com alguns pontos de ambos. Por exemplo, sou a favor das cotas sociais e sou contra o aborto, ideias que não costumam ser encontradas juntas num liberal ou num socialista. Contudo, não acho que as duas opiniões sejam contraditórias. Mas, quem foi que disse que tenho que ser socialista ou liberal?
Durante esta semana fui chamado mais uma vez a refletir sobre o tema por duas razões. A primeira, o excelente texto de Norma Braga publicado na Revista Ultimato e no seu Blog, intitulado “Por que não sou de esquerda”. A segunda foi a realização aqui na minha cidade do I Fórum de Missão Integral, do qual participei.
Entendo que a preocupação com a questão social está além do desgastado debate entre direita e esquerda. Mais que isso, o engajamento do cristão decorre do mandamento nuclear do evangelho que é o amor ao próximo.
Não quero ser nem de esquerda nem de direita.
Rejeito rótulos. Recuso-me a pensar dentro de um esquema fechado. Mas, se pensar da forma que eu penso significa ser de esquerda, tudo bem, não me importo.
* Substituí a palavra "liberais" por "conservadores", porque esta é mais específica e aquela pode provocar ambiguidade no contexto em que a inseri.
5 comentários:
Anderson,
Talvez você seja um legítimo social-democrata, um dos poucos a existirem no Brasil. Quem sabe? :-)
Abraços!
Oi Anderson,
eu entendo e me identifico com vc.
Acontece que é muito difícil pra um protestante ultra-conservador aceitar que vc pode assumir certas lutas sem necessariamente ter uma fundamentação cartesiana, ortodoxa e axiomática de fé para aquilo. Exemplo, se a reforma agrária redical vem de uma visão marxista eles dizem: Vc defende a reforma agrária, logo torna-se marxista ou é um cara contraditório.
Não entra na cabeça de um típico protestante ultra-conservador a idéia de que as coisas podem fluir de acordo com a Graça de Deus, independente da profissão de fé assumida a priori.
Ora, esse conservadorismo é axiomático e cartesiano: se vc é A não pode agir com os teoremas resultantes de B, pois A é a negação de B. Afinal, tudo que vem de B não faz parte da cosmovisão bíblica e vai para o inferno. Logo, vc corre um sério risco de compactuar com hereges se concorda, por exemplo, com o simples fato observado da experiência: os agricultores familiares faliram ou foram obrigados a entregar suas terras a mando de latifundiários que detém juntos extensões de terras do tamanho de países inteiros. Não é uma discussão agricultura familiar x agronegócio, mas sim uma constatação prática que não precisa ter relação com qualquer debate político teórico.
Se não existisse a pressão dos movimentos sociais que eles[conservadores] condenam, o país nem discutiria certos assuntos. Por exemplo, concordando ou não, a política de cotas abriu um debate sobre acesso à universidade, experiências estão sendo feitas país a fora. A direita faria alguma coisa? Algo mudaria no perfil dos estudantes que encontramos nos corredores da universidade? Eu duvido.
Note que uso o termo ultra-conservador porque conheço muita gente séria e ortodoxa engajada em movimentos de "esquerda". Muitas dessas pessoas são conservadoras no sentido de que não flexibilizam nenhum ponto de sua profissão de fé.
Só que uma grande parte do protestantismo se tornou fria, cartesiana e quadrada. Reproduz ferramentas racionalistas na teologia a fim de justificar um projeto de poder que, ao meu ver, não está nos evangelhos. É bonitinha só no norte da europa. Concebe Deus mais como um grande jurista universal do que como o Filho do Homem pregado na cruz.
Norma,
Embora possua certa admiração pela social democracia, prefiro manter-me livre desses esquemas (espero que isso não soe pedante...).
Vinícius,
Estou impressionado com a afinidade de nossas ideias.
O que acontece é que existe, aparentemente, uma "esquerda" e uma "direita" como formas mais ou menos pré-concebidas de pensar.
É com essa limitação no pensamento que não concordo.
Salve, Anderson!
A divisão "direita x esquerda" é algo complicada. O aborto, por exemplo, é defendido por vastos setores liberais; Eu opto mais pela distinção havida entre Conservadores e Revolucionários.
No campo econômico é fácil fazer a distinção: direita seria economicamente liberal, esquerda seria economicamente estatista. Nos EUA, todavia, "liberal" é expressão usada para definir a esquerda, socialmente liberal (pró-gay, pró-aborto, etc), entando, em oposição, os conservatives.
Um cristão pode ser de esquerda, é certo. Por ser de direita. Pode defender um maior ou menor grau de intervenção do Estado na economia e na vida privada.
Não pode é ser socialista ou liberal (entenda cum grano salis), em face da contradição óbvia entre o materialismo e a fé.
Ed,
Síntese precisa, meu caro!
Abs
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